Henrique
Henrique nasceu com os pés tortos e com péssimos prognósticos dos médicos: não iria falar nem andar. Tudo parecia mais grave ainda pois sua mãe, aos 47 anos, já estava na menopausa e mesmo assim ficou grávida. Uma gravidez de risco, que após o parto resultou em um tratamento de dois anos com botas ortopédicas e muita fisioterapia.
Mas ele falou e andou muito bem. Os médicos se enganaram.
O que ninguém previa é o que estava pra acontecer por volta dos sete ou oito anos. Um passeio no parque de diversões, um carrinho de choque e uma batida. Essa mistura foi o ingrediente que mudaria a vida de Henrique pra sempre: a batida corriqueira nesse carrinho foi o suficiente para entortar sua coluna de forma irreversível.
Tudo isso se seguiu de uma forte dor e, no hospital, mais prognósticos nada animadores dos médicos: sua mãe ouviu que Henrique iria morrer, não havia nada a ser feito.
Ninguém sabia, mas ele era portador de neurofibromatose e a escoliose é uma das causas desta doença, que é rara.
Sua infância desde então foi traumatizante, sendo alvo de bullying constantemente na escola. Na adolescência, fase em que todos nós somos acometidos por crises de insegurança com o próprio corpo, para ele, esse quadro foi certamente bem mais intenso. “Me trancavam no banheiro e me batiam, cortavam meu cabelo, rasgavam todos os meus livros e cadernos, me jogavam na lata do lixo”, relembra. E se ainda nesta fase, com os hormônios a mil e os primeiros amores, Henrique se sentia impotente diante de tudo. “A fase que nunca tive um beijo sequer, enquanto via todos os meus colegas tendo seus primeiros amores! É como se eu não tivesse direito de me interessar por alguém e ser correspondido”, lamenta ele.
A saída para ele foi se defender sozinho. Se apanhava, aprendia a bater. Se lhe xingassem, aprendia a xingar também. Toda essa série de violências foi minando suas forças, ao ponto de ele querer desistir de tudo, inclusive da própria vida.
Porém, com o passar dos anos, Henrique foi suportando tudo com muita coragem, mas ainda com muito receio com a própria aparência. Anos sem ir à praia (mesmo morando em Santos, litoral de SP). Certa vez uma mulher lhe disse que ele era uma aberração e por isso não deveria estar lá.
Cerca de dez anos depois de ver sua coluna entortar, outro golpe o feriu de morte: a perda de sua mãe, a pessoa que ele mais amava. Mesmo com o amor de suas irmãs, pra não continuar sendo tratado feito criança, ele resolveu sair de Santos e ir pra São Paulo. Foi morar em uma república, começou a conhecer a noite paulistana e, mesmo sabendo dos ataques que poderia receber por sua aparência, conseguiu se soltar, fazer amigos e até ficar famoso nas baladas que frequentava.
No escuro das madrugadas, Henrique relembra que ficava com o primeiro que aparecesse e lhe desse bola. “Não podia escolher, pois sabia que pra mim seria quase impossível despertar atração em alguém”.
Seu sonho é tornar-se fotógrafo e retratar outras pessoas com deficiência. Por que? Pelo simples fato de que, sentindo na pele o preconceito, ele sabe que dar a oportunidade para outras pessoas se amarem e se aceitarem como são é uma questão de sobrevivência.
Convido vocês a verem todas as fotos com um olhar acolhedor. Desta forma, conseguirão encontrar beleza em corpos que não estamos acostumados a enxergar, sobretudo neste site.
Abraços a todos!!!
Texto e fotos: Eberson Theodoro
Siga o fotógrafo no Instagram:
@ebersontheodoro e @fotodehohomem1
Siga o modelo no Instagram:
Assine para ter acesso a todo o conteúdo do site: www.fotodehomem.com/assine
AVISO LEGAL: Todas as fotos são de autoria de Eberson Theodoro, sendo estas protegidas pela lei do Direito Autoral 9.610 e sua cópia/reprodução não está autorizada. Conteúdo exclusivo para maiores de 18 anos.